Tatuagens caíram no gosto popular. Mas antes de fazer uma permanente, certifique-se de cuidados como habilidade do profissional e esterilização dos instrumentos
Guaíra Flor
Da equipe do Correio
Algumas são sexy. Outras têm estilo e um certo ar de rebeldia. Há também as agressivas, fortes, marcantes. Em uma ou várias partes do corpo. As tatuagens estão na moda. E fazem a cabeça de gente de todo tipo. Tem homem engravatado com unicórnio tatuado nas costas. Do tipo dois em um: sério durante o dia, descolado depois das 19h. Tem mulher quietinha, do tipo calada, com serpentes escondidas na nuca e na virilha. Um detalhe para lá de fatal. Capaz de enlouquecer muito marmanjo. Admirar tatuagens é uma coisa. Fazer, outra totalmente diferente.
Principalmente porque tatoos são para sempre. E esse papo de que dá para tirar com laser é uma meia verdade. ‘‘Sempre fica uma marca na pele, como uma sombra ou cicatriz’’, explica Ana Maria Costa, dermatologista e professora da faculdade de Medicina da Universidade de Brasilia. Além disso, se livrar de uma tatuagem custa pelo menos 20 vezes mais que fazer. Por isso, especialistas e tatuadores são enfáticos. Só faça uma quando tiver certeza de não se arrepender. Nem agora nem daqui a trinta anos, quando for um(a) velhinho(a) respeitável.
Tomada a decisão, é preciso juntar coragem para enfrentar as agulhas do tatuador e o medo de ficar doente. Para desenhar uma florzinha menor que uma moeda, são necessárias mais de cem agulhadas. E elas doem. Doem muito. Principalmente na nuca, coluna, virilha e partes internas do braço. E nem pense que o incômodo termina quando se levanta da cadeira. A cicatrização leva cerca de 15 dias. E exige cuidados (leia quadro).
Fazer uma tatuagem também envolve riscos. De saúde e morais. Se o tatuador for ruim, aquele cavalo marinho belíssimo pode ficar parecido com um esqueleto. E a boca de Mick Jagger (vocalista dos Rolling Stones) igual a uma marquinha do beijo da Xuxa. Sem falar que uma agulha ou tinta contaminada é capaz de transmitir doenças como hepatite C e Aids. Portanto, informe-se muito bem sobre as maneiras de prevenir problemas com a tatuagem. E lembre-se de que sempre existe a opção de fazer uma temporária. Só para tirar onda.
Para os menores de idade fica o lembrete: tatuagem só com a autorização dos pais. Karina Balduíno, 24 anos, já passou por isso. Aos 15 anos, ela tatuou uma orquídea nas costas. Para tanto, precisou do aval da mãe, que foi com ela escolher o desenho. Ano passado, já dona do próprio nariz, fez outra tatuagem na virilha. Dessa vez, um tubarão martelo preto. Para 2002, pretende fazer outras duas. Um símbolo japonês nas costas e um dragão no calcanhar. ‘‘Eu acho lindo e tenho certeza de que não vou me arrepender’’, constata.
Sem preconceito Com adeptos de tantas idades e gostos, a tatuagem já perdeu há muito tempo o rótulo de marginalidade. Há vinte anos, o veredicto era certo. Quem via um jovem com desenhos no corpo logo pensava: esse aí dá trabalho. ‘‘Olha, minha filha, esse seu namorado tem um dragão no braço. Aposto que usa droga’’, diziam as mães, apavoradas. ‘‘Sei não filhão, mas essa sua namoradinha tatuada não é moça para casar’’, rotulavam os machões.
O panorama, hoje, é bem diferente. Certas tatuagens deixam as pessoas intrigadas, atraídas. Especialmente aquelas mais discretas. Mas o preconceito ainda existe. Principalmente no ambiente de trabalho. ‘‘É melhor evitar polêmica’’, diz Carla Rocha, 28 anos, moradora da Asa Sul. Ela tem uma borboleta vermelha nas costas, por isso só trabalha de camisa fechada. ‘‘Não sei o que os alunos iriam pensar’’, diz a moça, que ensina português em uma escola particular do Cruzeiro. CURIOSIDADES A palavra tatuagem vem da palavra ‘‘tatu’’, que significa ‘‘desenho na pele’’, para os habitantes do Taiti. Esse povo, segundo os livros de história, foi o primeiro a tatuar o corpo permanentemente.
A tatuagem foi difundida em outros países a partir de 1779, quando o explorado inglês James Cook desembarcou no Taiti (Polinésia) Até meados do século XIV tatuagens eram utilizadas apenas por marinheiros, militares, boxeadores e criminosos. Daí o preconceito que persiste até hoje (embora de maneira mais suave) contra quem tem desenhos no corpo A música Menino do Rio, de Caetano Veloso, ajudou a difundir a moda da tatuagem entre os jovens brasileiros no início da década de 80. A música — que fala de um ‘‘dragão tatuado no braço’’ — foi inspirada no surfista José Arthur Machado (1956-1989), o Petit EVITE MARCAS ETERNAS Quem faz tatuagem pode deixar no corpo mais que um desenho artístico.
Há pessoas que, de lambuja, ganham doenças sem cura como hepatite C ou cicatrizes enormes (quelóides). Os problemas são fruto da falta de cuidado na hora de entregar a pele para alguém tatuar. Para não correr riscos, siga as dicas a seguir: ANTES DE TOMAR A DECISÃO Pense muito bem. Tatuagens deixam marcas eternas, mesmo que você opte por retirá-las depois Não escolha nenhum desenho por impulso. Evite tatuar o nome de namorados, ídolos e bandas de rock. Ninguém sabe o dia de amanhã.
Já pensou passar a vida inteira com o nome do ‘‘ex’’ que te traiu do lado esquerdo do peito? Se estiver inseguro, não faça. Faça uma tatuagem temporária primeiro para ter certeza Se você for do tipo que tem medo até de injeção, desista. Fazer tatuagem dói. E, dependendo do lugar, como cabeça, costas e parte interna do braço, dói muito Menores de 18 anos não podem fazer tatuagem sem autorização dos pais. Não é caretice, é precaução, além de, no Distrito Federal, ser obrigatório por lei (Lei nº 1.581/97) .
Os pais têm que assinar um termo de responsabilidade e acompanhar o filho no momento da tatuagem. Antes de completar os 18 anos, há também o risco de a tatuagem ficar deformada. A pele pode esticar com a idade adulta. Além disso, é preciso ter maioridade para se responsabilizar legalmente pelas conseqüências da tatuagem para saúde NA HORA DE ESCOLHER O TATUADOR Procure diversos profissionais. Veja o álbum de fotos dele e compare.
Há tatuadores que fazem tribais lindos, mas não são bons desenhando rostos Não se contente em perguntar se ele usa material esterilizado. Vá assistir ele tatuar alguém Quando estiver lá, preste atenção se ele usa: luvas e máscaras cirúrgicas, agulhas descartáveis, tintas atóxicas (de preferência de origem vegetal) e, principalmente, se joga os restos da tinta fora. Lembre-se: é proibido reaproveitar material nas tatuagens DURANTE A TATUAGEM Não se mexa de jeito nenhum Dói e sai sangue mesmo. Por isso, não se apavore Se doer demais, peça para ele ir mais devagar ou menos fundo DEPOIS Só retire o curativo após, no mínimo, duas horas Só tome banho depois de oito horas.
Mesmo assim, com água morna. Não esfregue o local Não use roupas ou sapatos apertados em cima da tatuagem na primeira semana Passe pomada cicatrizante no local nos primeiros quinze dias Evite sol, piscina, mar e água quente até a tatuagem cicatrizar completamente Não coce a tatuagem nem tire a casquinha que vai se formar em cima dela para não comprometer o resultado do desenho Se começar a sair pus da tatuagem, procure um médico Para evitar que a tatuagem desbote, passe filtro solar nela sempre que tomar sol.
Matéria retirada do site CorreioWeb.
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